quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Protesto contra o protesto

Tenho acompanhado atentamente a luta dos professores contra o modelo de avaliação imposto pelo Governo, bem como o tratamento editorial dos media nacionais. Confesso que sinto em alguns (muitos) jornalistas uma ligeira simpatia pela causa dos sindicatos. Isso reflecte-se nas reportagens de rua, nas perguntas feitas aos diversos lado do conflito e no tom mais agreste quando do outro lado do microfone está a ministra ou o secretário de Estado da Educação. Durante o dia de ontem, em plena greve, as peças mostravam apenas as escolas vazias (quando no sul o cenário não foi necessariamente esse) e perguntas mais ou menos benevolentes para professores e sindicalistas. Às repostas “não estamos contra a avaliação, mas contra este modelo”, nunca ouvi a contra-pergunta “mas que modelo defendem?”. Num mesmo nível, a palavra “intransigência” é sempre atribuída à actuação do Governo e nunca à da FENPROF, quando a meu ver a maior intransigência está mesmo desse lado. Sejamos claros: os professores não querem este modelo de avaliação, nem modelo algum. Quanto muito – como ouvi várias vezes – querem uma auto-avaliação, que não levará a lado nenhum e apenas servirá programas estatísticos sem qualquer aplicabilidade prática. Quanto aos sindicatos, querem – e até agora conseguiram – uma temática de luta, que poderia ser esta ou outra qualquer. Sentaram-se à mesa com o Governo, assinaram um pré-acordo de entendimento e acabaram por dar o dito pelo não dito, contagiando professores e alunos para uma causa que não podem (não devem) vencer. Quem trabalha no privado sabe a legitimidade de um modelo de avaliação. Não visa apenas punir quem não cumpre, mas (principalmente) premiar quem se destaca. Tudo bem... este modelo proposto poderá ter defeitos. Pode ser burocrático, pode até ser injusto, mas que modelo propõem os sindicatos? E os professores? Façamos um exercício retrospectivo: ao longo dos cerca de 15 anos de “escola”, quantos professores nos marcaram verdadeiramente? Quantos revelaram trabalho por detrás da matéria ano após ano repetida? Muito poucos. E não digo nenhum, porque seria de todo injusto. E porque também é a pensar nesses que trabalham, que preparam as aulas, que não faltam, que não trazem problemas pessoais para a sala de aula, que fomentam o debate, a troca de ideias, que fomentam o prazer de se estar numa escola, que o modelo de avaliação deve prosseguir. Urge premiar quem leva a “escola” às costas e vê em cada aluno um projecto (quase) pessoal. Não penso que os media têm reflectido esta questão. Penso que estão a seguir o caminho mais fácil, dando voz e legitimidade a uma luta que me envergonha. Porque quem tem mérito não teme a avaliação.

RVF

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