quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A precariedade tem preço?


Uma das questões que me incomoda é a da precariedade do trabalho. O meu sentimento não é tanto de pena, mas de alguma revolta contra alguns dos que se queixam da situação. O mundo evoluiu, todos sabemos. Em muitos aspectos para algo novo, que não é necessariamente nem bom nem mau. Mudou, simplesmente. Entre as várias transformações está o fim do emprego para a vida, fruto dos novos ciclos económicos e da livre concorrência. Há no entanto quem continue agarrado ao passado, acusando Estado e patrões de não cumprirem pressupostos que já não se pressupõem. Falo dos sindicatos, falo dos professores, falo dos jornalistas. Por que razão tem o Estado que absorver todos os licenciados em Educação, ou os grupos de media de criar saídas para todos os licenciados em comunicação social? A questão é simples, e ainda mais no exemplo dos jornalistas: os melhores terão sempre saída e à partida não terão receio de um vínculo mais frágil, que também lhes permite outras colaborações e outros desafios.

A este propósito vi no site do Sindicato dos Jornalistas uma notícia que me deixa perplexo. “O Grupo de Trabalho sobre Precariedade e Jornalismo Freelance/Sindicato dos Jornalistas acaba de lançar um inquérito para determinar quantos são, quem são, onde trabalham e como trabalham os jornalistas precários portugueses”. Até aqui nada de novo. Mas uma das questões do inquérito é preocupante: “De que forma a precariedade afecta a qualidade do trabalho e a independência editorial?”. Deixem-me ver se entendi. Um jornalista não tem um vinculo seguro (entenda-se por ligação ao quadro de uma empresa) e como tal cede mais facilmente em questões editoriais, “vendendo-se” para compensar as injustiças da sociedade em que vivemos. É isso? Então pergunto eu: não deveria o Sindicato ou a CCPJ controlar afincadamente todos e quaisquer desvios éticos dos jornalistas? É que os casos sucedem-se e não me parece sequer razoável que as condições aceites pelos profissionais sirvam de desculpa para cedências humilhantes a toda a classe. Sempre disse: acho que a passagem do jornalismo à assessoria é mais do que legítima. O que não posso aceitar é que se viva impunemente o melhor dos dois mundos.

RVF

1 comentário:

Mário Barros disse...

A precariedade devia ser sempre algo de incomodativo para trabalhadores e patrões. Mesmo sabendo que não é este o caso, ter um funcionário "em situação tremida" dá jeito. Quanto à impunidade dos dois mundos, subscrevo a 100 por cento.