segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Quantas máscaras tem Portugal?


Hoje é véspera de Carnaval. O país sai à rua vestido a rigor, numa parada para televisões verem, forçando uma energia que não tem, um ritmo que não é seu, uma tradição que, por mais que se insista, não é genuína. Veste-se a rigor, esquecendo por uns dias o que lhe vai na alma, as dores que lhe assolam o corpo. Veste-se de monstro, de bailarina, de palhaço. Veste-se de corrupto, veste-se de artista, veste-se de importante. Veste-se de tudo um pouco, sem saber ao certo o que quer esconder, o quer mostrar. Afinal de contas, quantas máscaras tem Portugal? Aos olhos do mundo, tem a máscara da fadista, que num choro contado elogia a saudade. Tem a máscara do rapaz das chuteiras, que incendeia os estádios e oferece taças a clubes com dinheiro. Tem a máscara do político, que cá dentro não faz milagres, mas que pelo mundo deixa a sua marca em cargos de relevância. Tem a máscara do atraso, onde a inovação custa a arrancar obrigando ao consumo do que é estrangeiro. Tem a máscara do sol, que também essa, e à custa de tantos desfiles, começa a ficar queimada e já sem cor. Tem a máscara da emigração, que esconde aqueles que vencem a pulso as pequenas, mas duras batalhas. Tem a máscara do silêncio, numa Europa onde só falam ricos e grandes. Tem a máscara da arrogância, quando de olhos em África ainda se sente metrópole. Tem a máscara dos oceanos, porque bem ou mal lhe pertence essa ousadia. Tem a máscara do futuro, porque é um país de gente dura que sonha um dia, e em jeito de bricadeira, usar máscara de pequeno num desfile de Carnaval.

RVF

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