quinta-feira, 9 de abril de 2009

O que falta ao Porto?


Questiono-me várias vezes sobre a falta da ambição e de coragem da cidade do Porto. Questiono-me, principalmente, porque conheço a sua força e o seu valor. Conheço as suas empresas, as suas pessoas. Não entendo porém por que se verga e se envergonha. E isto acontece um pouco por todas as áreas, à excepção do futebol. Percebo que Lisboa tenha mais força, tenha mais gente, tenha mais poder. Percebo que seja a capital, que lidere em muitas áreas, que projecte a nossa imagem no exterior. Percebo que seja sede do Governo, que tenha um cartaz cultural mais forte, que tenha um orçamento maior. Mas tudo isto não deve fazer desvanecer o peso do Porto. Não deve fazer desvanecer, internamente, o peso do Porto. Porque me parece que este é um problema muito mais da forma como a cidade se vê do que como o país vê a cidade. Na área da comunicação, por exemplo, quantas são as empresas que conseguem ganhar grandes contas? Diria que, à excepção da Central de Informação, o panorama é desolador. Contratar fora é uma forma de se ser mais nacional e de não se assumir um bairrismo que incomoda a quem tem horizontes mais latos. Temos feito (Central de Informação), também neste capítulo, um trabalho fulcral de inversão de políticas centralizadoras. Temos mostrado que é possível ser-se nacional estando sediado no Porto (embora com delegação em Lisboa) e que é possível conquistar as grandes contas, e ser-se inovador, e ser-se eficaz, mesmo com a principal estrutura a Norte. E isso, inevitavelmente, tem-nos feito crescer em Lisboa, com clientes também no Algarve, em Torres Vedras, em Madrid. E é por isso que acho que o Porto (tal como Barcelona, Manchester ou Milão) tem que saber tirar partido de ser a número dois e assumi-lo com o charme e encanto que todos reconhecem à cidade. É isso que fará o Porto atingir o papel que perdeu e que parece não saber (ou querer) encontrar. Da nossa parte, continuaremos a trabalhar nesse sentido. Para que a partir do Porto a Central de Informação seja um exemplo de inovação e reinvenção do sector.

RVF

7 comentários:

Mário Barros disse...

As gentes do Porto sempre foram reivindicativas, sempre pugnaram pelo seus direitos, não deixando que o jugo do poder lhes colocasse a pata autoritária em cima. Exemplos na História há muitos. Mas, hoje, e por meia culpa do PS, que quis forçar Fernando Gomes (primeiro) e um não-se-sabe-quem Francisco Assis para a presidência, a cidade deixou-se adormecer por uma mão que bem a embalou. Mais cedo ou mais tarde, Rui Rio vai deixar a câmara e o seu legado a pouco mais se resumirá do que a um cofre mais recheado. Mas, acima de , mas uma cidade amorfa que, infelizmente, vive apenas à custa do futebol. E digo isto sendo portista de alma e coração. Mas a vida é bem mais do que uma bola a entrar na baliza. E Rui Rio, por ironia do destino, até parece que empurra a cidade nesse sentido.

Numa altura em que... disse...

Caríssimo,

percebo o que diz, mas acho que a questão não pode nem deve ser resumida ao poder local. Em primeira instância a culpa é dos portuenses, sejam eles empresários, artistas, estudantes. A alma de uma cidade não pode nem deve ser moldada por quem a dirige, mas sim por quem nela habita.

Abr.
RVF

Mário Barros disse...

Eu coloco a questão ao contrário: quem a dirige é o espelho de quem nela habita. Recordo apenas que, mesmo com um Estado centralista como o nosso, dirigentes como Fernando Gomes, Vieira de Carvalho, Narciso Miranda ou Luís Filipe Menezes sempre se fizeram ouvir em Lisboa. O poder local tem precisamente essa importância: olha de perto os problemas das pessoas. Se o não faz, então é porque está com os olhos noutras paragens.

Numa altura em que... disse...

Penso que o problema é precisamente esse: o Porto acha que só sendo "ouvido" em Lisboa consegue crescer e afirmar-se. E só com políticos "à Norte", sem papas na língua, poderá crescer. Acho que esse é também o mal do país. O Porto só se afirmará quando a cidade se motivar para tal. As empresas, as pessoas, os artistas. Sem dependência do poder local. Esteja na Câmara o Fernando, o Luís ou o Rui. Não são os políticos que fazem os países e as cidades. Esse é, para mim, o principal erro e o principal risco.

Mário Barros disse...

Desgraçadamente, tenho de discordar. Gostava bem de saber como é que, por exemplo, se conseguem captar investimentos sem a assinatura de um "cartola" de Lisboa. Sem o aval de quem se senta em S. Bento. Concordo com a motivação e com todo esse processo de boas intenções. Porém, esbarra na dura realidade. Não digo que se deva fazer vénias a Lisboa, bem pelo contrário. Deve-se rosnar, mostrar os dentes e provar que a cidade (quem a habita) consegue levar os seus intentos a bom porto. Literalmente.

Numa altura em que... disse...

Mal está um país ou uma cidade se está apenas dependente do investimento público. Acabou por tocar no cerne da questão... Se assim fosse a Central de Informação não existiria. Como também não existiria a Sonae, a Amorim, a RAR... Mas concordo que é mais fácil pôr a questão por esse lado.

Abr.

Mário Barros disse...

Não! Um redondo não! Em momento algum falei de investimento público, como se pode facilmente comprovar pelas minhas palavras escritas. E se mais explicações fossem necessárias, diria que coisas como desafectações de terrenos da RAN ou da REN só podem acontecer depois de o poder central assim o decidir. Ou que os milhões que foram para as Qimondas só podem sair dos cofres do Estado precisamente depois de umas certas e determinadas assinaturas. E se concorda que é mais fácil colocar a questão por esse lado, então é melhor chamar o Hugo Chavez para nacionalizar isto tudo.
Abraço.