Questiono-me várias vezes sobre a falta da ambição e de coragem da cidade do Porto. Questiono-me, principalmente, porque conheço a sua força e o seu valor. Conheço as suas empresas, as suas pessoas. Não entendo porém por que se verga e se envergonha. E isto acontece um pouco por todas as áreas, à excepção do futebol. Percebo que Lisboa tenha mais força, tenha mais gente, tenha mais poder. Percebo que seja a capital, que lidere em muitas áreas, que projecte a nossa imagem no exterior. Percebo que seja sede do Governo, que tenha um cartaz cultural mais forte, que tenha um orçamento maior. Mas tudo isto não deve fazer desvanecer o peso do Porto. Não deve fazer desvanecer, internamente, o peso do Porto. Porque me parece que este é um problema muito mais da forma como a cidade se vê do que como o país vê a cidade. Na área da comunicação, por exemplo, quantas são as empresas que conseguem ganhar grandes contas? Diria que, à excepção da Central de Informação, o panorama é desolador. Contratar fora é uma forma de se ser mais nacional e de não se assumir um bairrismo que incomoda a quem tem horizontes mais latos. Temos feito (Central de Informação), também neste capítulo, um trabalho fulcral de inversão de políticas centralizadoras. Temos mostrado que é possível ser-se nacional estando sediado no Porto (embora com delegação em Lisboa) e que é possível conquistar as grandes contas, e ser-se inovador, e ser-se eficaz, mesmo com a principal estrutura a Norte. E isso, inevitavelmente, tem-nos feito crescer em Lisboa, com clientes também no Algarve, em Torres Vedras, em Madrid. E é por isso que acho que o Porto (tal como Barcelona, Manchester ou Milão) tem que saber tirar partido de ser a número dois e assumi-lo com o charme e encanto que todos reconhecem à cidade. É isso que fará o Porto atingir o papel que perdeu e que parece não saber (ou querer) encontrar. Da nossa parte, continuaremos a trabalhar nesse sentido. Para que a partir do Porto a Central de Informação seja um exemplo de inovação e reinvenção do sector.
RVF
RVF
7 comentários:
As gentes do Porto sempre foram reivindicativas, sempre pugnaram pelo seus direitos, não deixando que o jugo do poder lhes colocasse a pata autoritária em cima. Exemplos na História há muitos. Mas, hoje, e por meia culpa do PS, que quis forçar Fernando Gomes (primeiro) e um não-se-sabe-quem Francisco Assis para a presidência, a cidade deixou-se adormecer por uma mão que bem a embalou. Mais cedo ou mais tarde, Rui Rio vai deixar a câmara e o seu legado a pouco mais se resumirá do que a um cofre mais recheado. Mas, acima de , mas uma cidade amorfa que, infelizmente, vive apenas à custa do futebol. E digo isto sendo portista de alma e coração. Mas a vida é bem mais do que uma bola a entrar na baliza. E Rui Rio, por ironia do destino, até parece que empurra a cidade nesse sentido.
Caríssimo,
percebo o que diz, mas acho que a questão não pode nem deve ser resumida ao poder local. Em primeira instância a culpa é dos portuenses, sejam eles empresários, artistas, estudantes. A alma de uma cidade não pode nem deve ser moldada por quem a dirige, mas sim por quem nela habita.
Abr.
RVF
Eu coloco a questão ao contrário: quem a dirige é o espelho de quem nela habita. Recordo apenas que, mesmo com um Estado centralista como o nosso, dirigentes como Fernando Gomes, Vieira de Carvalho, Narciso Miranda ou Luís Filipe Menezes sempre se fizeram ouvir em Lisboa. O poder local tem precisamente essa importância: olha de perto os problemas das pessoas. Se o não faz, então é porque está com os olhos noutras paragens.
Penso que o problema é precisamente esse: o Porto acha que só sendo "ouvido" em Lisboa consegue crescer e afirmar-se. E só com políticos "à Norte", sem papas na língua, poderá crescer. Acho que esse é também o mal do país. O Porto só se afirmará quando a cidade se motivar para tal. As empresas, as pessoas, os artistas. Sem dependência do poder local. Esteja na Câmara o Fernando, o Luís ou o Rui. Não são os políticos que fazem os países e as cidades. Esse é, para mim, o principal erro e o principal risco.
Desgraçadamente, tenho de discordar. Gostava bem de saber como é que, por exemplo, se conseguem captar investimentos sem a assinatura de um "cartola" de Lisboa. Sem o aval de quem se senta em S. Bento. Concordo com a motivação e com todo esse processo de boas intenções. Porém, esbarra na dura realidade. Não digo que se deva fazer vénias a Lisboa, bem pelo contrário. Deve-se rosnar, mostrar os dentes e provar que a cidade (quem a habita) consegue levar os seus intentos a bom porto. Literalmente.
Mal está um país ou uma cidade se está apenas dependente do investimento público. Acabou por tocar no cerne da questão... Se assim fosse a Central de Informação não existiria. Como também não existiria a Sonae, a Amorim, a RAR... Mas concordo que é mais fácil pôr a questão por esse lado.
Abr.
Não! Um redondo não! Em momento algum falei de investimento público, como se pode facilmente comprovar pelas minhas palavras escritas. E se mais explicações fossem necessárias, diria que coisas como desafectações de terrenos da RAN ou da REN só podem acontecer depois de o poder central assim o decidir. Ou que os milhões que foram para as Qimondas só podem sair dos cofres do Estado precisamente depois de umas certas e determinadas assinaturas. E se concorda que é mais fácil colocar a questão por esse lado, então é melhor chamar o Hugo Chavez para nacionalizar isto tudo.
Abraço.
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